Era digital precisa garantir prosperidade para todos, diz relatório da ONU
03 outubro 2017
[caption id="attachment_110110" align="aligncenter" width="1024"] As economias em desenvolvimento, lideradas pela China e pela Índia, responderam por quase 90% das 750 milhões de pessoas que ficaram online pela primeira vez entre 2012 e 2015, de acordo com dados da União Internacional de Telecomunicações (UIT). Foto: EBC[/caption]
A digitalização está afetando cada aspecto da produção e do comércio, das grandes corporações às pequenas empresas, mas há risco de essas tecnologias contribuírem para a ampliação das desigualdades de renda, segundo novo relatório publicado na segunda-feira (2) pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
Segundo o relatório “Economia da Informação 2017: Digitalização, Comércio e Desenvolvimento”, as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), o comércio eletrônico e outras aplicações digitais estão ajudando um crescente número de pequenas empresas e empreendedores nos países em desenvolvimento a se conectar com mercados globais e criar novas formas de geração de renda. Essas tecnologias também estão sendo utilizadas para o empoderamento de mulheres como empreendedoras, apoiando as atividades produtivas.
A economia digital está se expandindo rapidamente no Sul global. As economias em desenvolvimento, lideradas pela China e pela Índia, responderam por quase 90% das 750 milhões de pessoas que ficaram online pela primeira vez entre 2012 e 2015, de acordo com dados da União Internacional de Telecomunicações (UIT).
“Nós da UNCTAD estamos animados com o poder transformador da digitalização, mas precisamos reconhecer que a Internet não é uma panaceia”, disse o secretário-geral da UNCTAD, Mukhisa Kituyi. “Políticas nacionais e internacionais efetivas são necessárias para garantir que os ganhos sejam distribuídos de forma equitativa entre e dentro dos países”, disse Kituyi.
O relatório indica que mais da metade da população mundial permanece off-line, e que o ritmo de crescimento no acesso e no uso da Internet está desacelerando. Especificamente, nos países menos desenvolvidos, apenas uma em cada seis pessoas usou a Internet em 2016.
Globalmente, a digitalização das atividades econômicas tem ocorrido rapidamente graças à expansão do acesso à banda larga de alta velocidade e à drástica redução dos custos dos equipamentos e softwares das TICs. O custo médio de 1 gigabyte de capacidade de armazenamento, por exemplo, caiu de mais de 400 mil dólares em 1980 para 0,02 dólar em 2016.
A digitalização está impulsionando a ascensão da impressão 3D, da inteligência artificial, da Internet das coisas, da computação em nuvem, do big data e da automatização, incluindo nos países em desenvolvimento. Em Mianmar, por exemplo, os pequenos agricultores utilizam impressoras 3D para criar partes de um sistema de irrigação e os mecanismos internos para uma bomba solar. Na Tanzânia, garrafas plásticas recicladas estão sendo utilizadas como material para protótipos de impressoras 3D.
Os ganhos de produtividade decorrentes da digitalização, no entanto, podem beneficiar principalmente alguns indivíduos, já ricos e qualificados. A dinâmica dos “vencedores levam tudo” é típica das economias baseadas em plataformas de Internet, onde os efeitos de rede beneficiam pioneiros e estabelecedores de tendências. As quatro maiores empresas por capitalização de mercado estão todas ligadas à economia digital: Apple, Alphabet (Google), Microsoft e Amazon.
A pesquisa da UNCTAD lançada na segunda-feira é divulgada em meio a crescentes preocupações com a ampliação das desigualdades de renda. Em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde as economias digitais evoluíram mais, o crescente uso das TICs foi acompanhado de um aumento das desigualdades de rendas entre ricos e pobres.
As recomendações dos especialistas da UNCTAD incluem um chamado para os países garantirem uma oferta adequada de trabalhadores qualificados com fortes habilidades adaptativas e criativas necessárias para “trabalhar com máquinas”. Mais empregos de colarinho azul e branco podem se tornar obsoletos devido à automação.
“Todos os países precisarão ajustar seus sistemas de educação e treinamento para entregar as habilidades necessárias para a economia digital”, disse o relatório.
Com o comércio se tornando cada vez mais digital, e com fluxo de dados tendo um papel mais importante para as companhias, um diálogo mais próximo será necessário entre comércio e políticas de Internet. O fluxo de dados e a Internet das coisas, por exemplo, levantam preocupações relacionadas à privacidade e à segurança dos dados.
Para garantir que mais pessoas e empresas nos países em desenvolvimento tenham a capacidade de participar efetivamente, a comunidade internacional precisará expandir seu apoio. A colaboração internacional em escala massiva é necessária para evitar que a economia digital amplie as desigualdades digitais e de renda já existentes.
Números sobre a economia digital
Crescimento:
• Até 2019, o tráfico global de Internet deve ser 66 vezes maior do que em 2005;
• A produção de bens e serviços de TICs responde por 6,5% do PIB global;
• Mais de 100 milhões de pessoas estão empregadas no setor de serviços ligados a TICs;
• As exportações de serviços baseados em TICs cresceram 40% entre 2010 e 2015;
• As exportações de impressoras 3D devem crescer de 450 mil em 2016 para 6,7 milhões em 2020, um crescimento de 15 vezes em apenas três anos.
Desafios de desenvolvimento:
• Com estimados 16% dos indivíduos dos países menos desenvolvidos utilizando a Internet em 2016, a meta de acesso universal para esses países estabelecida nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) está longe de ser atingida;
• Desigualdades entre áreas urbanas e rurais: as redes 3G cobrem 89% das áreas urbanas, mas apenas 29% das áreas rurais; as desigualdades são maiores nos países de baixa renda;
• As desigualdades de gênero no uso da Internet são maiores nos países em desenvolvimento;
• O uso do comércio eletrônico nos países menos desenvolvidos está abaixo de 2% da população, comparado a mais de 50% em muitos países desenvolvidos;
• Apenas 4% das impressoras 3D do mundo são usadas na África e na América Latina;
• Na África, menos de 40% dos países adotaram legislação de privacidade de dados, e na Oceania, apenas as ilhas Cook têm tais legislações.
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