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Em dia mundial, chefe da ONU alerta para momento crítico na resposta ao HIV

30 novembro 2018

Jovem sul-africana exibe miçanga com o símbolo do movimento pelo fim da AIDS. Foto: Peace Corps/PEPFAR
Legenda: Jovem sul-africana exibe miçanga com o símbolo do movimento pelo fim da AIDS. Foto: Peace Corps/PEPFAR





Trinta anos após o primeiro Dia Mundial contra a AIDS, lembrado em 1º de dezembro, a resposta ao HIV ainda está em um ponto crítico, afirmou neste sábado o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Chefe da ONU ressaltou que a atual resposta dos países vai definir o curso da epidemia – se irá acabar até 2030 ou se gerações futuras terão de carregar o fardo da infecção.



Em mensagem para a data, Guterres destacou que grandes progressos foram feitos em diagnósticos, tratamentos e esforços de prevenção, mas alertou que o ritmo não corresponde à ambição global.



O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 prevê que a AIDS seja eliminada como ameaça de saúde pública até 2030. Outros marcos internacionais, como as metas 90-90-90 da ONU, estabelecem que até 2020, 90% das pessoas com HIV terão conhecimento do seu estado sorológico, 90% dessas estarão tomando os medicamentos antirretrovirais e 90% desses indivíduos sob tratamento terão a carga do vírus suprimida.



Desde o início da epidemia no mundo, mais de 77 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV e mais de 35 milhões morreram de doenças relacionadas à AIDS. Hoje, em torno de 37 milhões de pessoas vivem com HIV, segundo dados de 2017 do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) - com margem de erro de 31,1 milhões a 43,9 milhões. Desse grupo, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estima que 3 milhões tenham 19 anos de idade ou menos.



“Ainda há tempo para ampliar (o acesso a) testes de HIV, para permitir que mais pessoas tenham acesso a tratamentos, para aumentar os recursos necessários para prevenir novas infecções e para acabar com o estigma. Nesta encruzilhada crítica, precisamos fazer a virada certa agora”, disse Guterres.



Em relatório divulgado na quinta-feira (29), o UNICEF afirmou que cerca de 80 adolescentes irão morrer todos os dias de AIDS se progressos na prevenção da transmissão não forem acelerados. Apesar das tendências de redução em mortes relacionadas à doença e também no número de novas infecções, a trajetória descendente não está acontecendo rápido o suficiente, segundo a agência da ONU.



O relatório cita uma meta global para garantir que o número de crianças infectadas com o HIV não ultrapasse 1,4 milhão até 2030. O valor projetado a partir dos atuais esforços de saúde pública é de 1,9 milhão.



Em seu comunicado, Guterres ressaltou o estigma e as discriminações que afetam populações-chave para a resposta à epidemia, como homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, trabalhadores sexuais, pessoas trans, usuários de drogas injetáveis, indivíduos privados de liberdade e migrantes.



No total, uma em cada quatro pessoas com HIV não sabe que tem o vírus, o que as impede de tomar decisões informadas sobre prevenção, tratamento e serviços de apoio e cuidado.


Desafios de usuários de drogas injetáveis e pessoas privadas de liberdade





Também por ocasião da data, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) destacou o progresso notável rumo às metas 90-90-90. Atualmente, 75% das pessoas com HIV conhecem seu estado sorológico e 79% desses indivíduos estão em tratamento. Em torno de 80% dos que tomam os antirretrovirais têm sua carga viral suprimida.



Mas entre populações-chave, incluindo pessoas que injetam drogas e pessoas privadas de liberdade, os índices são menores, segundo o organismo internacional.



Em mensagem para o dia mundial, o diretor-executivo do UNODC, Yury Fedotov, defendeu que os programas de testagem sejam ampliados entre esses dois grupos. "Para isso, precisamos de vontade política, investimento adequado e capacitação", enfatizou o chefe da agência da ONU.



O risco de contrair o HIV é 23 vezes maior entre usuários de drogas injetáveis e cinco vezes maior entre indivíduos privados de liberdade do que entre adultos na população em geral. Estima-se que, dos 11 milhões de pessoas que injetam drogas no mundo, 1,3 milhão vive com HIV. Quando avaliada a população carcerária global, de 30 milhões de indivíduos, 3,8% possui o vírus.



De acordo com o UNODC, somente em 41 países o teste de HIV está disponível para usuários de drogas injetáveis. A disponibilidade de serviços de diagnóstico nas prisões também é muito limitada. Mesmo em locais onde os testes estão disponíveis, muitos fatores dificultam o acesso dessas populações ao exame.



"Estigma, discriminação, coerção e falta de consentimento e confidencialidade ainda impedem que muitas pessoas que usam drogas e pessoas privadas de liberdade façam o teste de HIV", completou Fedotov.



Para as mulheres nesses grupos, a violência de gênero e a falta de serviços específicos para a população do sexo feminino são barreiras adicionais ao atendimento para HIV, incluindo diagnóstico.


UNESCO pede melhorias na educação sobre sexualidade





Em pronunciamento para o dia mundial, a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, defendeu a educação sobre sexualidade como ferramenta de prevenção à infecção pelo vírus da AIDS.



"O conhecimento protege. Além de educar os jovens sobre como se proteger contra HIV e AIDS e obter acesso aos testes sorológicos, a educação em sexualidade lhes permite desenvolver as competências necessárias para ter uma vida cotidiana mais saudável e mais segura", disse a dirigente



A chefe da agência da ONU explicou ainda que para os jovens com HIV, um ambiente educacional sensível às questões de saúde pode salvar vidas, facilitando o acesso e a adesão ao tratamento. "O conhecimento é também a melhor defesa contra a discriminação e o estigma em relação ao HIV/AIDS", acrescentou Azoulay.



De acordo com a chefe da UNESCO, na África Subsaariana, lacunas na educação sobre sexualidade impedem que adolescentes tenham informações sobre como se proteger da epidemia.



O organismo internacional desenvolveu as Orientações técnicas internacionais sobre a educação em sexualidade, um guia que ajuda os países a abordar esses temas com seus alunos. A publicação mostra como adaptar as recomendações da UNESCO aos diferentes contextos locais.



A agência da ONU também coordena o programa Our Rights, Our Lives, Our Future, que visa reduzir em 68% o número de novas infecções de HIV entre adolescentes e jovens (entre 15 e 24 anos) da África Subsaariana até 2022.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância