Chefe da FAO pede mudanças profundas nos sistemas de alimentação para garantir dietas saudáveis
15 janeiro 2019
A fome, a obesidade e outras formas de má nutrição seguirão em aumento se não houver uma mudança profunda nos sistemas alimentares, afirmou nesta terça-feira (15) o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva. Dirigente participou do Congresso Futuro, evento de divulgação científica realizado no Chile e visto como o mais importante da América Latina.
O chefe da agência da ONU afirmou que o problema da fome e do sobrepeso no mundo não é por falta de alimentos e sim pela falta de acesso a comida saudável e nutritiva para toda a população.
“O paradoxo é que hoje em dia temos quase o mesmo número de pessoas com fome e pessoas obesas e isto vai crescendo rapidamente”, afirmou Graziano para uma plateia de especialistas internacionais que se dedicam a promover uma alimentação saudável e ambientalmente sustentável.
Segundo o último relatório da FAO, a fome afetou 821 milhões de pessoas em 2017 em todo o mundo e a proporção da obesidade em adultos chegou a 13,3% em 2016 — o equivalente a 672 milhões de pessoas.
Graziano destacou que a razão dos dois problemas é o fato de que os sistemas alimentares não estão fornecendo dietas saudáveis. “Os sistemas alimentares que temos não funcionam, estão projetados para outra coisa, que não é para garantir uma boa alimentação. O desafio é redesenhá-los."
O dirigente máximo da FAO lembrou que a obesidade deve ser tratada como um assunto público, com políticas públicas, e não como problema individual das pessoas. “O problema da obesidade é mais complexo que o da fome. A fome se limita a áreas específicas, sobretudo aquelas atormentadas por conflitos, secas e extrema pobreza, mas a obesidade está em todas as partes e segue crescendo em todo o mundo”, ressaltou Graziano.
O chefe do organismo internacional explicou que o sistema alimentar é a cadeia que inclui os solos, a produção, a distribuição e a armazenagem e chega até os restaurantes e casas, “mas não termina aí”. “Há uma parte que não é visível e que é a que tem mais poder, uma ‘superestrutura’ que condiciona as dietas saudáveis. Me refiro às instituições, às leis e aos marcos de regulamentação”, disse o especialista.
Graziano afirmou que, em nível mundial, as principais causas da fome são os conflitos armados e os impactos da mudança climática. “Hoje, 60% das pessoas que têm fome estão em países que têm conflitos e 40% estão em países que sofreram secas, um dos fenômenos mais devastadores para a produção."
Perante todos esses desafios, o dirigente fez um chamado para a atuação com rapidez e de forma conjunta, com governos, setor privado, sociedade civil, o mundo acadêmico e da pesquisa. “Todos temos um papel a ser desempenhado para garantir a segurança alimentar”, completou Graziano.
Também participaram do evento Rosana Oliveira, que pesquisa a alimentação com base em plantas, Rabi Mohtar, doutor em Tecnologia Agrícola e Sistemas de Gestão, e Corinna Hawkes, diretora do Centro de Política Alimentar da Universidade de Londres.