ONU confirma valas comuns de mais de 500 civis mortos em massacre na RD Congo
31 janeiro 2019
Uma investigação preliminar da ONU revelou na quarta-feira (30) que pelo menos 535 civis foram mortos em meio a um massacre no oeste da República Democrática do Congo. Cadáveres das vítimas foram encontrados em valas comuns. Os homicídios teriam ocorrido durante conflitos entre as comunidades de Banunu e Batende, que entraram em confronto em meados de dezembro, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).
Um inquérito está sendo realizado pelo braço de direitos humanos da Missão de Paz da ONU no país africano, a MONUSCO. O organismo já apurou que outros 111 aldeões ficaram feridos. A onda de violência afetou um total de quatro comunidades, além de Banunu e Batende, todas localizadas na região de Yumbi.
Ainda não há confirmação de quem é o responsável pelos assassinatos, mas a missão afirmou que “os ataques foram realizados de maneira organizada e planejada e foram extremamente violentos e rápidos, deixando pouco tempo para as populações fugirem”.
Os confrontos foram supostamente provocados por uma disputa envolvendo o enterro de uma liderança local da comunidade de Banunu.
“A equipe identificou um total de 59 locais de enterro em duas das cidades atacadas, mas não descarta mais locais”, de acordo com comunicado da MONUSCO divulgado nesta semana. “Além disso, 967 propriedades, incluindo igrejas, escolas e centros de saúde, foram saqueadas ou destruídas. Ao menos 363 barcos foram destruídos."
Estima-se que 16 mil pessoas teriam fugido de Yumbi e de áreas próximas ao local dos conflitos, incluindo cerca de 7 mil pessoas que buscaram refúgio na vizinha República do Congo. Os números são estimados pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
A MONUSCO relata que a situação de segurança está relativamente calma atualmente, com forças da segurança nacional presentes na área. A ONU e seus parceiros humanitários enviaram ajuda de emergência para a região, com suprimentos de remédios, alimentos, água e kits contra a malária. De acordo com as Nações Unidas, mais assistência está a caminho.
Justiça para as vítimas
Após uma missão de apuração dos fatos feita com autoridades locais, a MONUSCO afirmou que as sepulturas coletivas descobertas até o momento possivelmente possuíam dezenas de corpos. Segundo relatos, as covas foram descobertas inicialmente por funcionários da Cruz Vermelha e familiares que voltaram para o local da violência após a fuga. Também foram identificadas outras 40 sepulturas individuais, mas nenhum corpo dessas covas foi exumado.
Os confrontos entre etnias em dezembro aconteceram semanas antes de uma importante eleição presidencial, que havia sido adiada por dois anos. Eleitores em Yumbi não puderam votar, uma vez que o prédio da Comissão Eleitoral estava entre os que foram totalmente destruídos.
A MONUSCO afirmou que “condena veementemente” a violência e pediu uma investigação minuciosa dos crimes. A missão afirmou estar pronta para apoiar as autoridades congolesas a “levar justiça para as vítimas e promover a reconciliação entre as duas comunidades”.
Surto de ebola no leste é 2º maior de todos os tempos
No leste da República Democrática do Congo, o surto do vírus ebola — que começou há seis meses — agora se tornou oficialmente o segundo maior de todos os tempos, afirmou a ONU também na quarta-feira.
Mais de 740 pessoas — das quais 30% são crianças — foram infectadas até o momento e 460 morreram. Um total de 258 indivíduos sobreviveu à doença. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) afirmou que está intensificando sua resposta para ajudar as vítimas, em apoio aos esforços do governo e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para acabar com o surto – o maior da história do país.
“A resposta a este surto mais recente continua sendo prejudicada pela insegurança, por frequentes deslocamentos de pessoas em áreas afetadas e pela resistência de algumas comunidades”, informou o UNICEF.
“Embora tenhamos conseguido controlar amplamente a doença em Mangina, Beni e Komanda, o vírus continua se espalhando na área de Butembo, em grande parte por conta da insegurança e da movimentação de pessoas”, acrescentou Gianfranco Rotigliano, representante do fundo da ONU no país.
“Estamos intensificando nossa resposta e enviando funcionários adicionais às zonas de saúde de Butembo e Katwa, onde 65% dos novos casos de ebola nas últimas três semanas ocorreram."