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FAO alerta para necessidade de valorizar culturas alimentares esquecidas

27 maio 2019

Foto: FAO
Legenda: Foto: FAO





Você sabia que nem todas as bananas são amarelas e curvas como uma meia lua? Algumas são retas, outras são grossas e outras vermelhas. Na verdade, existem mais de 1 mil variedades de bananas, mas não saberíamos disso ao olhar as prateleiras dos mercados, onde a variedade Cavendish é a mais vendida.



Como são mais resistentes a danos durante o transporte e têm um alto rendimento, essas bananas "típicas" são as mais produzidas. Apesar da grande diversidade existente, a Cavendish representa quase 50% das bananas cultivadas no mundo. O mesmo ocorre com muitas das nossas frutas e legumes.



Na história da humanidade, das 30 mil espécies de plantas comestíveis existentes, de 6 mil a 7 mil foram cultivadas para produzir alimentos. No entanto, hoje, usamos apenas 170 culturas em uma escala comercial significativa.



Ainda mais surpreendente, dependemos de apenas 30 dessas culturas para nos fornecer as calorias e nutrientes de que precisamos todos os dias. Mais de 40% da nossa ingestão calórica diária vem de três culturas básicas: arroz, trigo e milho.



Existem milhares de culturas que foram esquecidas ou subutilizadas durante séculos. Para a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), isso deveria ser reparado, não apenas por todos os sabores que estamos perdendo, mas também pelos nutrientes que elas fornecem.



Estas culturas "esquecidas" são geralmente indígenas ou tradicionais que prosperam em regiões específicas do mundo.



Talvez pelo fato de que sejam cultivadas em pequenas áreas geográficas, tenham baixo rendimento, requeiram processamento prolongado, sejam suscetíveis a pragas ou porque simplesmente não tenham sido devidamente investigadas, nunca entraram no mercado mundial e, portanto, são desconhecidas para muitas pessoas.



Com o apoio de políticas e financiamento adequados, essas variedades esquecidas poderiam um dia ser reconhecidas no mercado mundial, segundo a FAO.



A agência das Nações Unidas lista cinco razões pelas quais essas culturas deveriam ser reconhecidas, o que podeira revolucionar o futuro de nossa dieta:



1. Enriquecem nossas dietas. As culturas tradicionais são geralmente muito nutritivas e podem nos oferecer uma dieta mais equilibrada. Quinoa, por exemplo, é o único cereal que contém todos os aminoácidos necessários aos humanos. O bambara é uma importante fonte de proteína e o milheto é rico em cálcio e ferro.



Atualmente, cerca de 1,5 bilhão de pessoas no mundo são afetadas por uma ou mais deficiências de micronutrientes. As deficiências de ferro, zinco, iodo, vitaminas A, B 12 e D são comuns, tanto em países subdesenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, especialmente entre mulheres e crianças. Essas deficiências não se manifestam apenas em pessoas com baixo peso ao nascer, mas também naquelas com sobrepeso e obesidade.



2. Eles protegem nossa agricultura. Ao confiar em tão poucas colheitas para alimentar a maioria da população mundial, somos vulneráveis ​​a uma doença ou praga que pode destruir muitos dos nossos sistemas alimentares.



A monocultura — o plantio de um único tipo de cultura — é especialmente propensa à devastação, a um declínio nos rendimentos e à degradação do solo. A dependência de um maior número de culturas valorizadas e apreciadas no mercado mundial significa que os agricultores têm mais opções para escolher suas culturas e como intercalá-las, práticas que aumentam a sustentabilidade dos sistemas de produção de alimentos e retardam a propagação de pragas e infestações de doenças.



3. Combater a mudança climática com suas próprias armas. As culturas tradicionais são especialmente úteis, uma vez que muitas delas são resistentes ao clima, podendo, por exemplo, sobreviver a inundações ou secas.



Elas também podem crescer em alguns tipos de climas em que outras culturas "padrão" não podem. Nopal cresce em desertos e áreas áridas, alazão e quinoa sobrevivem em altas altitudes, e algumas variedades de fruta-pão florescem mesmo em solos arenosos ou salinos. Com o crescente desafio da desertificação e o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, essas culturas são boas soluções para aqueles lugares onde é difícil obter qualquer outro alimento.



4. Eles mantêm o conhecimento tradicional vivo. Não só as culturas tradicionais são ignoradas, mas também a maneira tradicional de plantá-las e colhê-las. Por exemplo, os povos indígenas usaram numerosos métodos agrícolas — como a agricultura em terraços — que são naturalmente sustentáveis.



Ou seja, eles aproveitam melhor a água, não necessitam de fertilizantes — ou exigem uma quantidade muito pequena deles — ou ajudam a reabastecer o solo, por exemplo. Considerando que no futuro precisaremos cultivar mais alimentos para alimentar mais pessoas no planeta, temos que fazer da sustentabilidade nosso novo modo de vida, e esses métodos tradicionais são ferramentas valiosas nessa estratégia.



5. Eles podem melhorar os meios de subsistência de pequenos agricultores e produtores locais. Algumas culturas tradicionais têm boas possibilidades comerciais e podem ser uma excelente cultura comercial para pequenos agricultores ou agricultores familiares. Por exemplo, a quinoa costumava ser uma cultura de subsistência em Bolívia, Peru e Equador, mas aumentando sua visibilidade e atraindo interesse, sua produção quase triplicou entre 1992 e 2010. Atualmente, ela é cultivada em mais de 70 países.



Além disso, as culturas tradicionais, como leguminosas, também são úteis para consorciamento e, de fato, aumentam os rendimentos de outras culturas, gerando assim mais renda para os agricultores e suas famílias.



A próxima vez que você visitar um mercado local, em vez de ir até as frutas e verduras usuais, procure aqueles em que você não costuma reparar e experimente algo novo. Você pode diversificar sua dieta quando começar a trazer alguns desses alimentos esquecidos.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

FAO
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa