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ONU: Violência contra mulher é uma barreira para um futuro de paz para todos

28 novembro 2019

[caption id="attachment_169818" align="aligncenter" width="1178"]À esquerda: Ajna Jusic, Presidente da Associação "Filhos Esquecidos da Guerra"; no centro: Phumzile Mlambo-Ngcuka, Diretora Executiva da ONU Mulheres; e, à direita, Maria Luiza Ribeiro Viotti, chefe de gabinete da ONU, discursa na comemoração oficial do Dia Internacional para Eliminação da Violência contra Mulheres. Foto: ONU | Evan Schneider. À esquerda: Ajna Jusic, Presidente da Associação "Filhos Esquecidos da Guerra"; no centro: Phumzile Mlambo-Ngcuka, Diretora Executiva da ONU Mulheres; e, à direita, Maria Luiza Ribeiro Viotti, chefe de gabinete da ONU, discursa na comemoração oficial do Dia Internacional para Eliminação da Violência contra Mulheres. Foto: ONU | Evan Schneider.[/caption]



Oficiais das Nações Unidas prestaram solidariedade a vítimas de violência contra mulher e ativistas que trabalham para acabar com essa violação, considerada a mais comum na luta pelos direitos humanos.



“À medida que avançamos em nossos negócios, uma em cada três mulheres que encontramos nesse percurso foi ou será submetida a violência”, disse a brasileira Maria Luiza Ribeiro Viotti, chefe de gabinete das Nações Unidas, falando em nome do secretário-geral, António Guterres.



“Em algumas regiões, e dentre alguns grupos de mulheres, a taxa é ainda mais alta - e isso é somente a violência que é denunciada, então o número real é de fato maior”, completou.



Viotti discursou no evento que marcou o Dia Internacional para Eliminação da Violência contra Mulheres (25 de novembro) e que deu início aos 16 Dias de Ativismo contra a violência de gênero.



A chefe de gabinete também relatou que evidências indicam fortes ligações entre a misoginia e o extremismo, comportamentos que implicam com a paz e a segurança mundiais.



“Uma cultura de violência contra a mulher também tem sérias consequências na luta pela erradicação da pobreza e na luta para promover um desenvolvimento sustentável e inclusivo”, apontou em sua fala no evento oficial.



“A violência impede mulheres de participar das áreas da sociedade que impactam em suas vidas. Essa é uma das barreiras no caminho para alcançar a Agenda de 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o nosso roteiro para alcançar vidas pacíficas e prósperas em um planeta sustentável”, concluiu.

Os filhos esquecidos da guerra



O estupro é uma grave violação dos direitos humanos com um impacto devastador de longa data, disse a chefe da ONU Mulheres aos participantes do evento.



Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora-executiva da ONU Mulheres afirmou que o estupro “produz efeitos de mudança de vida que vão desde a gravidez até doenças sexualmente transmissíveis, além de um enorme e longo trauma e uma injustificável sensação de culpa”.



“Em algumas situações, as mulheres são rejeitadas pelos seus amados, sendo até punidas por instituições na sociedade”, completou Mlambo-Ngcuka.



Ajna Jusic, de 26 anos, da Bósnia e Herzegovina, sabe desses problemas em primeira mão. Sua mãe sobreviveu ao estupro durante a guerra, um acontecimento que ela nunca desejaria a ninguém.



Levaram 15 anos para que a mãe contasse à filha sobre as circunstâncias de seu nascimento. Hoje, a ativista luta pelo que ela chama de ‘filhos esquecidas da guerra’.



“O heroísmo da minha mãe não pode ser medido. A luta dela para mim foi incrível e continua sendo até hoje. Ela lutou por uma criança que teve seus direitos fundamentais negados: saber sua origem", disse Jusic no evento.



"Uma criança que não sabia, e nunca saberia de seus laços familiares. Uma criança que não tinha ideia da sua predisposição genética, mas que nasceu com um problema de coração. Ela lutou por mim”, comentou a jovem.



Como Representante Especial do Secretário-Geral sobre Violência Sexual em Conflito, Pramila Patten conheceu muitas mulheres como Jusic e a mãe durante visitas de campo realizadas em países como Mali, Iraque e a República Democrática do Congo (RDC).



Seu trabalho é parte dos esforços da ONU de eliminar esse crime, tão antigo quanto a própria guerra. Uma das ações inclui a adoção de uma resolução do Conselho de Segurança contra violência sexual relacionada a conflitos, bem como o estabelecimento do mandato de seu escritório (Escritório de Representante Especial para Violência Sexual e Conflito).



“O que há muito tempo foi considerado inevitável é agora entendido como evitável. O que antes era considerado colateral ou cultural, hoje é condenado como um ato criminoso”, disse Patten.

Fundo Fiduciário da ONU



Desde 1996, o Fundo Fiduciário da ONU para Acabar com a Violência Contra a Mulher (UNTF) concedeu quase 130 milhões de dólares a organizações, como a Iniciativa de Reabilitação e Conscientização de Vítimas de Ofensas Sexuais (SOAR).



Sediada na Nigéria, a SOAR mobilizou comitês de proteção à criança que respondem a questões de violência sexual contra meninas. Garotas adolescentes também foram treinadas como educadoras para advogar em escolas e em suas comunidades locais.



O trabalho delas de quebrar o silêncio que cerca a violência sexual desencadeou uma série de críticas por serem “contra nigerianos” ou “contra africanos”.



Segundo a diretora-executiva da SOAR, Chinyere Eyoh, “O Fundo Fiduciário da ONU mostrou que parcerias com organizações locais de base, como a que eu trabalho em conjunto, assim como a que a Ajna trabalha na Bósnia, são uma maneira de recuperar nós mesmas”, comentou após citar que o problema da violência contra mulheres e meninas atingiu proporções altas.



“De fato, trabalhando juntas, estou convencida de que a eliminação de todas as formas de violência contra mulher e meninas é possível”, completou Eyoh.

Grandes perdas devido à violência de gênero



Estupro e outras formas de violência de gênero “causam enormes prejuízos econômicos, políticos e sociais a indivíduos, famílias e Estados-nação, e continuam sendo um obstáculo para atingir a igualdade, o desenvolvimento, a paz e o cumprimento dos direitos humanos de mulheres e meninas”, disse a vice-secretária geral da ONU, Amina Mohammed, durante fala na capital nigeriana para marcar o Dia Internacional para Eliminação da Violência contra Mulheres.



“A concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e a sua promessa - de não deixar ninguém para trás - não poderão ser cumpridas sem que se coloque um fim à violência contra mulheres e meninas”, declarou Mohammed.



A vice-secretária geral descreveu o estupro como “uma manifestação extrema da violência contínua contra mulheres e meninas”.



A ONU está comprometida a apoiar governos em todo o mundo, ela acrescentou, “incluindo a Nigéria, para assegurar os direitos de mulheres e crianças contra a violência".



Segundo ela, a Iniciativa Spotlight, promovida em conjunto pela ONU e União Europeia, de acabar com todas as formas da violência de gênero e que está sendo implementada em uma série de países, incluindo a Nigéria, representa uma expressão importante do suporte da comunidade internacional para lidar com o desafio.

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