Pandemia pode prejudicar frágil progresso alcançado para mulheres e meninas, alerta chefe da ONU
01 setembro 2020
- Destacando o impacto socioeconômico desproporcional e devastador da COVID-19 nas mulheres e meninas em todo o mundo, o chefe da ONU, António Guterres, pediu na segunda-feira (31) um grande impulso para evitar que “anos, até gerações” de progresso no empoderamento das mulheres sejam perdidos para a pandemia.
- Em um discurso durante encontro virtual com mulheres jovens de organizações da sociedade civil, o secretário-geral disse que a pandemia já reverteu décadas de progresso limitado e frágil na igualdade de gênero e nos direitos das mulheres. “Sem uma resposta rápida, corremos o risco de perder uma geração ou mais de ganhos”, alertou.
Destacando o impacto socioeconômico desproporcional e devastador da COVID-19 nas mulheres e meninas em todo o mundo, o chefe da ONU, António Guterres, pediu na segunda-feira (31) um grande impulso para evitar que “anos, até gerações” de progresso no empoderamento das mulheres sejam perdidos para a pandemia.
Em um discurso durante encontro virtual com mulheres jovens de organizações da sociedade civil, o secretário-geral disse que a pandemia já reverteu décadas de progresso limitado e frágil na igualdade de gênero e nos direitos das mulheres.
“Sem uma resposta rápida, corremos o risco de perder uma geração ou mais de ganhos”, alertou.
Guterres destacou o papel vital desempenhado pelas mulheres, como trabalhadoras de saúde, equipe essencial, professoras e cuidadoras, ajudando milhões em todo o mundo – dentro e fora de suas casas.
No entanto, poucas são reconhecidas devido às desigualdades e preconceitos persistentes. Ao mesmo tempo, muitas mulheres que trabalham no setor informal foram jogadas na insegurança financeira, sem renda regular ou redes de segurança social eficazes.
“A pandemia expôs a extensão de seu impacto na saúde física e mental, na educação e na participação na força de trabalho”, disse Guterres, em meio a relatos perturbadores em todo o mundo sobre a disparada da violência de gênero, “já que muitas mulheres estão efetivamente confinadas com seus abusadores, enquanto recursos e serviços de suporte são redirecionados”.
“Em suma, a pandemia está expondo e exacerbando os obstáculos consideráveis que as mulheres enfrentam para alcançar seus direitos e realizar seu potencial”, disse ele.
A reunião de segunda-feira é um evento regular no calendário da ONU, mas geralmente organizada paralelamente à sessão anual da Comissão sobre o Status da Mulher. Este ano, no entanto, foi adiada devido à pandemia e realizada virtualmente, com milhares de mulheres ativistas e defensoras dos direitos das mulheres participando remotamente.
O secretário-geral sublinhou que seu principal objetivo durante o encontro era ouvir, não falar, e encorajou as participantes a colocarem questões e a partilharem opiniões.
Martha, uma ativista polonesa, falou sobre o aumento do populismo e do nacionalismo na Europa, que está colocando em risco a democracia e os direitos humanos. Ela se perguntou como enfrentar esse desafio, especialmente em meio a uma crise global.
Como o chefe da ONU, Nina, da Geórgia, concordou que o trabalho das mulheres é subestimado e que a pandemia colocou responsabilidades adicionais sobre elas.
“Enquanto tentamos desvendar o que a pandemia causou, acho que é importante compreendermos mais uma vez as barreiras invisíveis que as mulheres enfrentam para seu empoderamento econômico”, disse ela.
Alguns participantes enviaram perguntas por escrito que foram lidas por Phumzile Mlambo-Ngcuka, chefe da ONU Mulheres, a agência da ONU que promove a igualdade de gênero em todo o mundo.
As questões levantadas cobriram o aumento da gravidez na adolescência durante a pandemia, a proteção dos defensores dos direitos humanos, o apoio às pessoas com deficiência e a necessidade de combater o racismo.
“Estamos muito satisfeitos que mulheres em todo o mundo tenham esta oportunidade de falar com o secretário-geral da ONU neste momento sobre seus problemas e preocupações, e ouvi-lo”, disse Mlambo-Ngcuka, que atuou como moderadora do evento.
“A sociedade civil e os movimentos de mulheres são parceiros inabaláveis no esforço de nomear e combater as desigualdades que cresceram sob a COVID-19 e de colocar as mulheres no centro da recuperação.”
Mulheres e meninas no centro da reconstrução
Em seus comentários, o chefe da ONU lembrou o documento de política da ONU emitido em abril, que exortava os governos a colocar mulheres e meninas – sua inclusão, representação, direitos e proteção – no centro de todos os esforços para combater e se recuperar da COVID-19.
A primeira fase, disse Guterres, era para que as nações tivessem uma “visão holística” do impacto da pandemia na saúde.
“Todas as mulheres têm direito a serviços de saúde sexual e reprodutiva de qualidade e acessíveis. Os governos têm a responsabilidade de garantir que mulheres e meninas tenham acesso a esses serviços, mesmo durante uma crise”, disse ele, apelando a sistemas de saúde que atendam às necessidades e realidades de todos – incluindo mulheres e meninas.
“Isso significa priorizar e financiar a atenção primária à saúde e a Cobertura Universal de Saúde”, ao mesmo tempo em que se prioriza a proteção das mulheres contra a violência de gênero nos planos nacionais COVID-19, disse o secretário-geral da ONU.
Mitigando impactos socioeconômicos
Igualmente importante é colocar dinheiro nas mãos de mulheres que trabalham nas economias formal e informal, continuou o chefe da ONU.
“As transferências de dinheiro, créditos e empréstimos devem ser direcionados às mulheres, para mitigar o impacto imediato da perda de empregos e do aumento das responsabilidades de cuidados”, disse ele.
Os governos devem expandir as redes de segurança social e reconhecer o valor do trabalho de assistência invisível e não remunerado, ao injetar fundos de estímulo para fazer suas economias voltarem a funcionar.
Isso abordará as vulnerabilidades vividas pelas mulheres, garantirá o papel central das mulheres na vida econômica e, a longo prazo, contribuirá para o desenvolvimento sustentável e para economias mais inclusivas e resilientes, explicou Guterres.