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Dedicação e luta: a busca da agricultora Francimária por dias melhores

07 outubro 2020

  • A agricultora Francimária Gomes de Oliveira, de 45 anos, passou a ser referência para outras mulheres da comunidade de Oiticica, em Tauá, a 331 km de Fortaleza (CE) por conta de sua dedicação e luta. Cimara conseguiu melhorar a qualidade de vida de toda sua família com uma produção agrícola diversificada e sustentável.
  • A história de Francimária, enviada pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), faz parte da ação “15 dias de iniciativas transformadoras”, da campanha #MulheresRurais, mulheres com direitos, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Legenda: Francimária Gomes de Oliveira, de 45 anos, nasceu e cresceu na comunidade de Oiticica, em Tauá, a 331 km de Fortaleza (CE). Foto: FIDA

Mais conhecida como Cimara, Francimária Gomes de Oliveira, de 45 anos, nasceu e cresceu na comunidade de Oiticica, em Tauá, a 331 km de Fortaleza (CE). Trabalhou desde os 12 anos na roça com o pai, mas, ao se casar aos 15, passou a trabalhar com o marido. Nessa época, viviam em uma casa de taipa, que existe até hoje ao lado da casa de alvenaria onde agora vivem. “Pra poder conseguir uma de alvenaria deu trabalho”, conta.

Cimara mora com seus dois filhos, um jovem de 28 e uma de 25, o marido e os dois netos. Se fossem depender apenas do trabalho da roça, passariam muita necessidade: “tinha dia que não havia nem um pão pra comer, tínhamos que comprar fiado”, afirma. Por isso, ela decidiu produzir pastel, coxinha, enroladinho e cocada, que passou a vender de porta em porta. Assim, descobriu que levava jeito para o comércio.

Mas ao construir cinco canteiros e uma horta a vida começou a melhorar. Ela passou a vender a produção para a localidade vizinha, Vila de Vera Cruz. “A vida começou a melhorar depois dos canteiros, porque só a roça não estava dando conta”, diz Cimara.

Com a nova atividade e o aumento da produção, ela acessou o Programa de Aquisição de Alimentos (PPA) e, em 2004, se tornou a primeira agricultora da comunidade a comercializar seus produtos para o mercado institucional, o que foi um primeiro grande marco na mudança da sua vida. Com a nova atuação, toda a família passou a se envolver no plantio.

E Cimara, não satisfeita, decidiu inovar, e fez cartões para divulgar seus produtos. Com isso, ampliou suas vendas, passando a vender na localidade de Tauá. “Não sei ler, não, mas eu sou meio ativa pra isso aí. Fui tendo freguesia, fui trabalhando, até que o cacimbão secou, mas não baixei minha cabeça”, conta.

Foi com o trabalho para fornecimento ao PAA que ela juntou dinheiro para investir na propriedade: cavou um poço e instalou irrigação na horta. Isso fundamental para dar mais estabilidade à produção e diminuir o peso do trabalho. Construiu assim a tão sonhada casa nova, de alvenaria, em 2005. 

Hoje, Cimara fornece ao programa alface, cheiro verde, mamão, bolo e doce e recebe o pagamento a cada três meses. Ela conta que chegou a receber 4,5 mil reais, mas agora, com a diminuição do aporte financeiro pelo governo federal, o valor diminuiu para 2,5 mil reais por por entrega.

Foi com esse trabalho voltado ao PAA que ela se tornou uma referência para as mulheres da comunidade. “Aqui, só quem tinha canteiro, horta, era eu. Eu fiz foi ativar, e hoje essa mulherada toda está tudo com um quintalzinho. E o meu, a cada dia, fez foi crescer mais”.

No dia a dia, Cimara e o marido trabalham na horta, que fica nos arredores de casa. Dia sim, dia não, ela vai para Tauá vender a produção. Além da venda para o programa, ela entrega sozinha nas quitandas, nos mercados, e vende nas portas das casas cheiro-verde, pimentinha e mamão. À noite, trabalha fazendo doces e bolos. A rotina é intensa, mas ela acredita que é com o resultado do seu trabalho que poderá garantir uma vida melhor para os seus filhos.

Sobre o significado de ser mulher, Cimara responde: "Ser mulher? Eu não sei. Eu, era pra ser um cabra macho, de tudo eu sei fazer. Eu tenho mais coragem do que certos homens."

A experiência de Francimara envolve todo o processo de diversificação e fortalecimento das suas atividades produtivas, especialmente de horticultura, no quintal produtivo que, a partir do acesso à água e irrigação em uma região semiárida, tem colhido de forma continuada e com qualidade, o que garante, a partir de diferentes formas de comercialização.

A agricultora passou a ser referência para as outras mulheres da comunidade por sua dedicação e luta. Cimara conseguiu melhorar a qualidade de vida de toda a família e envolver a todos/as na atividade produtiva até então invisibilizada e desvalorizada.

Sobre o Projeto Paulo Freire

Presente em 31 municípios cearenses, o Projeto Paulo Freire (PPF) atua para reduzir a pobreza e para o desenvolvimento de 600 comunidades rurais com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado. Suas ações buscam favorecer, desde 2015, o capital social e humano, incluindo produção sustentável das famílias, buscando o aumento da renda a partir de atividades agrícolas e não agrícolas.

Com foco prioritário nos jovens, nas mulheres e nos povos e comunidades tradicionais, sua atuação abrange seis territórios do Ceará: Cariri, Sertão dos Inhamuns, Sertão dos Crateús, Sertão de Sobral, Serra da Ibiapaba e Litoral Oeste/Vales do Curu e Aracatiaçu.

O trabalho tem sido desenvolvido a partir de dois componentes: Desenvolvimento de Capacidades e Desenvolvimento Produtivo e Sustentabilidade Ambiental.

Para desenvolver capacidades, são realizadas atividades de formação para acesso às políticas públicas, assessoria técnica, capacitação, mobilização e controle social, formação de jovens para atividades econômicas e acesso a terra, e qualificação dos assessores técnicos.

Quanto ao desenvolvimento produtivo e à sustentabilidade ambiental, busca-se financiar os investimentos produtivos como estratégia de apoio à agricultura familiar, com base nos princípios da convivência com o semiárido e agroecologia.

O Projeto Paulo Freire, executado pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário do governo do Ceará a partir de parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) das Nações Unidas, ofereceu assessoria técnica que contribuiu para o desenvolvimento da produção de Francimara. 

A partir da assessoria possibilitada pelo projeto, Cimara passou a plantar pimenta malagueta, uma inovação que hoje é usada como defensivo natural na horta. Em relação ao acesso à água na unidade produtiva, ela pôde investir 17 mil reais no escavamento de um poço e na instalação de um sistema de irrigação. Atualmente, está sendo cavado mais um poço, previsto no Projeto de Investimento, para toda a comunidade.

Foi com a chegada do projeto que ela conseguiu diminuir as pragas e doenças da horta, a partir do aprendizado de novas técnicas como a horta suspensa e o cultivo de plantas que ajudam no controle dos insetos, além do uso de defensivos naturais, sempre em busca de maior equilíbrio biológico na produção.

As mulheres da comunidade conseguiram, a partir das orientações, aumentar a quantidade e a qualidade da criação de animais do quintal, como das galinhas e porcos, através da melhoria do manejo alimentar e sanitário, entre eles a vacinação de pintos, o uso de limão na água das galinhas contra o gogo e a limpeza periódica dos bebedouros feita com reutilização de garrafas PET.

A agricultora conta que se sente feliz por seu trabalho estar sendo reconhecido. E isso se expressa com as visitas de intercâmbios em sua unidade produtiva, com a vinda de pessoas de outras comunidades e também de outros estados. Para ela, um momento marcante foi o recebimento, pelas mãos do prefeito de Tauá, da premiação “Mulheres Empreendedoras”, dado pela Associação Comercial do município.

Com o investimento do Projeto Paulo Freire e a assessoria técnica contínua, as possibilidades de comercialização se ampliaram: Cimara tinha apenas dez canteiros, e hoje ampliou para quarenta, com perspectivas de ampliar para cinquenta.

15 dias de iniciativas inspiradoras

A história de Francimária Gomes de Oliveira, enviada pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), faz parte da ação “15 dias de iniciativas transformadoras”, da campanha #MulheresRurais, mulheres com direitos.

Durante os próximos dias, outras organizações parceiras da campanha irão compartilhar histórias de mulheres rurais promotoras da alimentação saudável, guardiãs da terra, líderes e empreendedoras, com base em três eixos principais: direitos e autonomia econômica; papel produtivo em sistemas agroalimentares; redução de lacunas e uma vida livre de violência. No dia 15 de outubro, encerra-se a ação com a celebração do Dia Internacional das Mulheres Rurais.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

FIDA
Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa