Discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, na cerimônia de entrega do Prêmio das Nações Unidas para os Direitos Humanos de 2023.
É um prazer estar com vocês para homenagear as realizações das pessoas defensoras dos direitos humanos em todo o mundo.
Três quartos de século atrás, em um mundo dizimado pela guerra, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou que:
"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos".
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um apelo claro para agir de acordo com uma verdade fundamental: que cada um de nós é um membro igual de uma única família humana.
Setenta e cinco anos depois, o mundo deve lembrar-se dessa sabedoria. E deve agir com base nela.
Porque os direitos humanos estão sob ataque em todo o mundo.
Conflitos estão em curso, com consequências terríveis para civis, como estamos testemunhando dramaticamente todos os dias, com mortes imensas e sofrimento em Gaza após os horrores dos ataques de 7 de outubro.
As desigualdades estão se aprofundando.
A fome e a pobreza estão aumentando.
Os direitos das mulheres estão estagnados e, em alguns casos, retrocedendo.
O espaço cívico e a liberdade de imprensa estão sendo reduzidos.
Novas ameaças estão surgindo – desde desastres climáticos catastróficos até a inteligência artificial, que possui o potencial de possibilidades imensas, mas também de perigos imensos.
E antigas hostilidades estão ressurgindo com fúria – do racismo à xenofobia e à intolerância religiosa.
Pessoas estão sendo violentamente atacadas unicamente por causa de sua religião, etnia ou quem amam.
Mas em todo o mundo, defensoras e defensores dos direitos humanos são luzes na escuridão.
Elas e eles estão mudando vidas:
Lutando, educando e responsabilizando quem ocupa posições de poder, para tornar os direitos humanos uma realidade viva.
Este é um trabalho profundamente perigoso.
No ano passado, quase 450 pessoas defensoras dos direitos humanos, jornalistas e sindicalistas foram mortos. Um aumento de 40% em relação ao ano anterior.
Trinta e três desapareceram sem deixar rastro – um aumento impressionante de trezentos por cento desde 2021.
Portanto, Excelências,
Nesse contexto, o Prêmio de Direitos Humanos de hoje é ainda mais importante.
Este prêmio tem reconhecido as realizações das defensoras e defensores dos direitos humanos desde 1968.
Ele homenageou personalidades como Nelson Mandela, Malala Yusafzai e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Julienne Lusenge, da República Democrática do Congo.
Julio Pereyra, do Uruguai.
O Centro Amman de Estudos de Direitos Humanos.
O Centro de Direitos Humanos "Viasna", que atua na Bielorrússia.
E a Coalizão Global de organizações da sociedade civil, povos indígenas, movimentos sociais e comunidades locais para o "reconhecimento universal do direito a um ambiente limpo, saudável e sustentável".
Parabéns a todos vocês. E obrigado por tudo o que estão fazendo.
Gostaria também de prestar homenagem, esta noite, às milhares de pessoas defensoras dos direitos humanos desconhecidas ao redor do mundo.
Nós vemos vocês; honramos; e agradecemos.
Excelências,
Líderes de todos os tipos devem se inspirar em vocês – as pessoas premiadas hoje – e defender todos os direitos humanos – políticos, civis, sociais, econômicos e culturais.
O mundo precisa que líderes de países, corporações, partidos políticos, organizações religiosas e civis, entre outros, se manifestem contra o antissemitismo, o fanatismo antimuçulmano, os ataques a comunidades cristãs minoritárias e todas as formas de ódio e abuso.
É preciso que protejam as pessoas defensoras dos direitos humanos e levem à justiça aqueles que os ameaçam.
É preciso que abracem nossas normas e valores comuns, ajam de acordo com eles e se guiem pelo espírito de humanidade e dignidade incorporado pela Declaração Universal – para prevenir conflitos, proteger o planeta e curar divisões.
Encorajo todos os Estados-membros a aproveitarem o 75° aniversário da Declaração Universal para fortalecer seu compromisso de tornar os direitos humanos uma realidade.
E para colocar os direitos humanos na linha de frente dos esforços para atualizar nossas instituições internacionais na Cúpula do Futuro em setembro do próximo ano.
Excelências,
Mais uma vez, parabenizo as pessoas e instituições premiadas hoje.
Luta por luta, caso por caso, vocês estão tornando a visão dos direitos humanos universais uma realidade.
Mas vocês não podem fazer isso sozinhos.
Ao celebrarmos o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, precisamos que líderes de todos os tipos assumam seu papel como pessoas defensoras dos direitos humanos também.