Sustentando a paz por meio do desenvolvimento comum
Discurso do secretário-geral da ONU na reuniāo do Conselho de Segurança sobre a manutenção da paz e da segurança internacionais, em 20 de setembro de 2023.
Sr. Presidente do Conselho de Segurança, Excelências,
Agradeço ao Governo da China por convocar este debate sobre o vínculo vital entre desenvolvimento e manutenção da paz.
Esse vínculo definiu as Nações Unidas desde o início.
Nossa organização é construída sobre três pilares: paz, desenvolvimento e direitos humanos.
Isso foi reafirmado inúmeras vezes.
A Cúpula Mundial de 2005 declarou que "o desenvolvimento, a paz e a segurança e os direitos humanos estão interligados e se reforçam mutuamente".
O desenvolvimento por si só não é suficiente para garantir a paz. Mas o desenvolvimento é essencial. Nenhuma paz é segura sem um desenvolvimento inclusivo e sustentável que não deixe ninguém para trás.
E, é claro, esse reconhecimento também define a Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Assim como o progresso em direção a um objetivo eleva todos os outros, o fracasso em uma área arrisca reverter os ganhos de maneira geral.
E nenhum fracasso é mais calamitoso do que o fracasso na prevenção de conflitos. De fato, os ganhos com o desenvolvimento geralmente estão entre as primeiras vítimas da guerra.
Vemos esse padrão em todo o mundo: quanto mais próximo um país está de um conflito, mais distante ele está do desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Nove dos dez países com os mais baixos Indicadores de Desenvolvimento Humano passaram por conflitos ou violência nos últimos dez anos.
As desigualdades e a falta de oportunidades, de empregos decentes e a limitação da liberdade podem gerar frustração e aumentar o espectro da violência e da instabilidade.
Instituições fracas e a corrupção aumentam o risco de conflitos.
O caos climático e a degradação ambiental são outros multiplicadores de crises. Com o agravamento da emergência climática, o calor recorde e a crescente competição por recursos cada vez mais escassos, as pessoas são forçadas a se mudar e a vulnerabilidade e a insegurança disparam.
O crime organizado e os grupos extremistas violentos e terroristas encontram terreno fértil nesses ambientes, desgastando o tecido social, agravando ainda mais as inseguranças e corroendo a governança eficaz.
Mas, assim como a falta de desenvolvimento alimenta os fatores que aumentam o risco de conflito, o inverso também é verdadeiro.
O desenvolvimento humano ilumina o caminho para a esperança - promovendo a prevenção dos conflitos, a segurança e a paz.
É por isso que a promoção da paz e a promoção do desenvolvimento sustentável e inclusivo andam de mãos dadas:
- Construir a paz significa garantir a segurança alimentar, o acesso à educação e ao desenvolvimento de habilidades, à saúde, à proteção social e à dignidade para todas as pessoas.
- Construir a paz significa fortalecer a resistência aos choques climáticos e investir em adaptação.
- Construir a paz significa acabar com a exclusão digital e aproveitar os benefícios da inclusão digital, ao mesmo tempo em que se protege contra os perigos das novas tecnologias.
- Construir a paz significa equilibrar a balança do poder e da participação igualmente para as mulheres e criar oportunidades para a juventude.
- E construir a paz significa ampliar o financiamento acessível e de longo prazo para os países em desenvolvimento em todos os lugares, para que eles possam investir em bens e serviços públicos para sua população.
Sr. Presidente,
Em um momento em que 85% das metas dos ODS estão fora do curso, devemos agir com base nesse entendimento com muito mais urgência e ambição.
Os países em desenvolvimento - especialmente os países menos desenvolvidos - estão sendo atingidos por uma tempestade perfeita de crises:
- Dívidas esmagadoras, espaço fiscal evaporando e preços em alta.
- A escalada da catástrofe climática, a ampliação das desigualdades e o agravamento do desemprego e da pobreza.
- E os efeitos persistentes da pandemia da COVID-19 e da recuperação desigual.
Essa é uma receita para conflitos sociais, instabilidade política e, por fim, conflitos abertos.
Precisamos fazer mais para apoiar os países em dificuldades.
Tenho defendido medidas ousadas para tornar nossas instituições globais - inclusive a arquitetura financeira internacional - mais representativas das realidades atuais e mais sensíveis às necessidades das economias em desenvolvimento.
Também propus um conjunto de ações concretas que podemos tomar agora, incluindo um Pacote de Estímulo aos ODS de US$ 500 bilhões por ano para reduzir os encargos da dívida e liberar recursos para financiamento de longo prazo e acessível de fontes multilaterais e privadas.
Porque investir no desenvolvimento hoje significa investir em um amanhã mais pacífico.
Sr. Presidente,
Todos os dias, as mulheres e os homens das Nações Unidas estão dando vida a esse vínculo entre paz, desenvolvimento e justiça em nosso trabalho em todo o mundo.
Nossas Equipes de País das Nações Unidas estão liderando esforços para apoiar as prioridades nacionais para o desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Nossas forças de manutenção da paz da ONU estão auxiliando os Estados-membros na gestão e resolução de conflitos.
Os meus enviados especiais e as missões políticas especiais da ONU estão facilitando processos políticos, mediando e prevenindo a eclosão de conflitos abertos.
E nossa Comissão de Consolidação da Paz está unindo a comunidade internacional em torno da relação mutuamente reforçadora entre a paz e o desenvolvimento.
Faço um apelo aos Estados-membros para fortalecerem a Comissão de Consolidação da Paz e aprimorarem a eficácia de seu trabalho.
O Conselho de Segurança, em particular, poderia buscar mais sistematicamente a orientação da Comissão sobre as dimensões de construção da paz dos mandatos das operações de paz.
E nossas operações de paz devem ser capacitadas para desempenhar um papel maior na manutenção da paz em todos os estágios do conflito e em todas as suas dimensões.
Sr. Presidente,
Estamos orgulhosos de nosso trabalho. Mas também sabemos que é preciso fazer mais para unir os esforços humanitários, de paz e de desenvolvimento.
Apresentei propostas para uma Nova Agenda para a Paz em uma época de tensões crescentes e conflitos em proliferação.
Essas ideias são estruturadas em torno dos princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas e de um mundo estável.
Oferecemos reflexões abrangentes que reconhecem a natureza interligada dos muitos desafios que enfrentamos.
E isso reflete claramente nosso compromisso de vincular com mais firmeza as ações pela paz aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Isso começa com uma ação mais determinada para fortalecer a prevenção, ancorada no pleno respeito a todos os direitos humanos - civis, políticos, econômicos, sociais e culturais.
E exige a transformação da dinâmica de poder intergeracional e de gênero em todas as áreas, inclusive na paz e na segurança.
Já passou da hora de agir para garantir a participação significativa e liderança de mulheres e jovens na tomada de decisões, erradicar todas as formas de violência contra as mulheres e defender os direitos das mulheres.
Sr. Presidente,
A Nova Agenda para a Paz estabelece uma visão para a prevenção de conflitos, a manutenção da paz e o avanço do desenvolvimento que se aplica a todas as pessoas, em todos os países, em todos os momentos.
Devemos reconhecer que, como uma comunidade internacional, somos tão fortes quanto o for o nosso elo mais fraco.
Um senso de vulnerabilidade compartilhada deve se traduzir em um propósito comum, à medida que nos esforçamos para salvar vidas e salvaguardar os ganhos de desenvolvimento onde e quando estiverem ameaçados.
Nesse contexto, saúdo a adoção da Declaração da Cúpula dos ODS de setembro e o compromisso compartilhado assumido pelos Estados-membros de empreender - e cito - "ações ousadas, ambiciosas, aceleradas, justas e transformadoras, ancoradas na solidariedade internacional e na cooperação efetiva em todos os níveis".
Olhando para o futuro, convido todos os Estados-membros a abordarem a Cúpula do Futuro com esse mesmo espírito de solidariedade e ambição.
Para garantir a paz e promover o desenvolvimento, precisamos abandonar a lógica autodestrutiva da competição de soma zero, voltar a nos comprometer com a cooperação e cultivar a coragem de fazer concessões.
O Conselho de Segurança deve ser um ator fundamental nesse esforço vital.
Muito obrigado.
Assista à gravação da reunião do Conselho de Segurança: https://webtv.un.org/en/asset/k19/k19fcyvnc9