Jornalismo, fake news & desinformação: manual para educação e treinamento em jornalismo
Para servir como modelo de currículo, este manual foi elaborado para dar aos educadores e instrutores de jornalismo, juntamente com estudantes de jornalismo, uma estrutura e lições para ajudar a navegar pelos assuntos associados a fake news. Também esperamos que seja um guia útil para os que já exercem a profissão de jornalista.
Este manual reúne a contribuição de importantes educadores, pesquisadores e pensadores do jornalismo internacional que estão ajudando a atualizar o método e a prática do jornalismo para lidar com os desafios da informação incorreta e da desinformação.
É parte da “Iniciativa Global pela Excelência na Educação em Jornalismo”, que é foco do Programa Internacional para o Desenvolvimento da Comunicação (PIDC) da UNESCO.
A iniciativa procura envolver-se com o ensino, a prática e a pesquisa do jornalismo de acordo com o panorama global, incluindo o compartilhamento de boas práticas internacionais. Consequentemente, o presente manual procura servir como exemplo de currículo internacionalmente relevante, aberto à adesão ou adaptação, como resposta ao problema decorrente da desinformação global que confronta as sociedades em geral, e o jornalismo em particular.
Evita-se admitir que o termo fake news (“notícias falsas”) possua um significado direto ou comumente compreendido. Isso ocorre porque “notícias” significam informações verificáveis de interesse público, e as informações que não atendem a esses padrões não merecem o rótulo de notícias.
Nesse sentido, então, a expressão “notícias falsas” é um oxímoro que se presta a danificar a credibilidade da informação que de fato atende ao limiar de verificabilidade e interesse público – isto é, notícias reais.
Para entender melhor os casos que envolvem manipulação exploratória do idioma e convenções de gêneros de notícia, esta publicação trata esses atos de fraude pelo que são – como uma categoria particular de informação falsa em formas cada vez mais diversas de desinformação, inclusive em formatos de entretenimento como memes visuais.
Nesta publicação, o termo desinformação é comumente usado para se referir a tentativas deliberadas (frequentemente orquestradas) para confundir ou manipular pessoas por meio de transmissão de informações desonestas.
Isso geralmente é combinado com estratégias de comunicação paralelas e cruzadas e um conjunto de outras táticas, como hackear ou comprometer pessoas. O termo “informação incorreta” frequentemente refere-se a informações enganosas criadas ou disseminadas sem intenção manipuladora ou maliciosa.
Ambos são problemas para a sociedade, porém a desinformação é particularmente perigosa pois é frequentemente elaborada, com bons recursos, e acentuada pela tecnologia automatizada.
Os provedores da desinformação atacam a vulnerabilidade ou o potencial partidário dos destinatários esperando que eles se alistem como amplificadores e multiplicadores. Desta forma, eles procuram encorajar-nos para nos tornarmos condutores de suas mensagens, explorando nossas propensões para compartilhar informações por múltiplas razões.
Um perigo específico é que fake news nesse sentido são normalmente gratuitas – ou seja, pessoas que não podem pagar por jornalismo de qualidade ou que não têm acesso a meios de comunicação independentes, são especialmente vulneráveis à desinformação e informação incorreta.
A disseminação da desinformação e da informação incorreta é possível em grande parte por meio de redes e mensagens sociais, o que levanta a questão da extensão da regulação e da autorregulação das empresas que proporcionam esses serviços.
Como plataformas intermediárias, em vez de criadoras de conteúdo, essas empresas, atualmente, estão sujeitas a regulação precária (exceto na área de direitos autorais). Sob pressão paulatina, contudo, e com um aumento nos riscos de liberdade de expressão impostos pelo excesso de regulação, a autorregulação tem aumentado – embora em etapas irregulares.
Em 2018, o relator especial da ONU sobre Liberdade de Expressão e Opinião focou seu relatório anual nessa questão, encorajando as empresas da internet a instruírem-se com a autorregulação nos meios de comunicação e a se alinharem melhor com os padrões da ONU sobre o direito de transmitir, buscar e receber informações.
Dentro dessa ecologia em rápida evolução das medidas tomadas por ambos os estados e empresas, há um papel muito significativo dos jornalistas e meios de comunicação, o que torna esta publicação relevante.