Prioridades das Nações Unidas para 2025
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apresenta suas prioridades para 2025 à Assembleia Geral, reunida em sua 56ª reunião plenária, em 15 de janeiro.
Excelências, senhoras e senhores,
Permitam-me começar desejando a vocês e suas famílias um 2025 muito feliz e saudável.
Excelências,
Vamos começar com as boas notícias.
É compreensível que fiquemos sobrecarregados com a turbulência de nosso mundo.
Mas, ao olharmos para o próximo ano, nunca devemos perder de vista o progresso e o potencial.
E há sinais de esperança.
Os negociadores estão nos estágios finais de um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns em Gaza.
Enquanto isso, o cessar-fogo no Líbano é, em grande parte, mantido e o país finalmente conseguiu eleger um presidente após mais de dois anos de impasse.
Em relação ao clima, o mundo agora investe quase o dobro em energia limpa do que em combustíveis fósseis.
E em quase todos os lugares, a energia solar e a eólica são agora as fontes mais baratas de eletricidade - e as que mais crescem.
Em grande parte do mundo, as meninas alcançaram a paridade na educação.
Mais crianças estão sobrevivendo hoje do que nunca. As infecções por HIV continuam a diminuir drasticamente, juntamente com as taxas de mortalidade por malária.
Vimos novas medidas significativas para eliminar o casamento infantil, proteger nossos oceanos e expandir o acesso à Internet.
E começamos 2025 fortalecidos pelos compromissos do Pacto para o Futuro, do Pacto Digital Global e da Declaração sobre as Gerações Futuras.
Essas medidas são uma afirmação do poder e do propósito das Nações Unidas no ano do nosso octogésimo aniversário.
Em meio a dificuldades, o mundo tem se unido por meio das Nações Unidas para enfrentar alguns dos problemas mais difíceis.
Aliviando as tensões.
Forjando e mantendo a paz.
Estabelecendo metas ousadas para combater a pobreza, a fome, a desigualdade e a mudança climática.
Buscando a responsabilização por violações do direito internacional, inclusive do direito internacional humanitário.
Fornecendo ajuda para salvar vidas nos lugares mais turbulentos do mundo.
Desde sua fundação, as Nações Unidas têm representado a consciência global. Em um mundo que parece estar decidido a destruir, nossa Organização tem sido uma força de construção.
E, todos os dias, continuamos a fortalecer a forma como trabalhamos e realizamos nossas ações.
Desde reforçar o sistema de desenvolvimento da ONU nos países ... até conquistar a paridade de gênero nos níveis mais altos.
Continuamos inquietos por reformas - nos esforçando para sermos mais eficazes e econômicos ... simplificando procedimentos e descentralizando decisões ... aumentando a transparência e a responsabilidade ... e transferindo recursos para investir em dados, comunicação digital, inovação, visão estratégica e ciência comportamental por meio da nossa iniciativa ONU 2.0.
As Nações Unidas refletem uma verdade fundamental: problemas globais exigem soluções globais.
Quanto mais a ONU fizer em conjunto para enfrentar os grandes desafios em todo o mundo, menor será o ônus para os países individualmente fazerem isso sozinhos.
Excelências,
Esse espírito de esperança enraizado no agir deve nos impulsionar.
Sim, há progresso em nosso mundo tumultuado.
Mas não tenhamos ilusões: este é um mundo muito tumultuado e com grandes incertezas.
Nossas ações – ou a falta de ações - desencadearam a Caixa de Pandora de males dos tempos modernos.
Quatro desses males se destacam por representarem, na melhor das hipóteses, ameaças que podem perturbar todos os aspectos do nosso trabalho e, na pior, acabar com nossa própria existência:
- Conflitos desenfreados.
- Desigualdades desenfreadas.
- A crise climática em fúria.
- E tecnologia fora de controle.
A boa notícia é que temos os planos para enfrentar esses desafios.
Não precisamos reinventar a roda.
Precisamos colocar a roda em movimento.
Por meio da aceleração e da transformação - orientadas em torno do Pacto para o Futuro, cuja implementação será uma prioridade central em 2025.
Excelências,
Vamos começar com a paz.
Os conflitos estão se multiplicando, tornando-se mais perigosos e mortais.
O aprofundamento das divisões geopolíticas e a desconfiança estão colocando mais lenha na fogueira.
A ameaça nuclear está em seu nível mais alto em décadas.
O respeito aos direitos humanos está sob constante ataque.
A impunidade é endêmica - com violações em série do direito internacional, do direito humanitário internacional e da Carta da ONU - e ataques sistemáticos às nossas próprias instituições.
Em Gaza, temos sido incansáveis em exigir um cessar-fogo imediato. A libertação imediata e incondicional dos reféns. E ações imediatas para proteger os civis e garantir a entrega de ajuda humanitária que salva vidas.
Quero saudar mais uma vez a espinha dorsal da resposta humanitária, nossos colegas da UNRWA.
É claro que nada pode justificar os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro.
E nada pode justificar os níveis dramáticos de morte e destruição infligidos ao povo palestino.
Durante meses, não houve limite para o sofrimento e para os horrores.
Faço um apelo veemente a todas as partes para que finalizem um acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns o quanto antes.
Excelências,
Em toda a região, estamos vendo uma reformulação do Oriente Médio.
O que está muito menos claro é o que surgirá.
Em Israel e na Palestina, será que veremos uma ação irreversível em direção a uma solução de dois Estados, de acordo com as resoluções da ONU, a lei internacional e os acordos anteriores - como sempre defendemos?
Ou, em vez disso, veremos uma anexação constante por parte de Israel... a negação dos direitos e da dignidade do povo palestino... e a destruição de qualquer chance de paz sustentável?
Na Síria, depois de anos de derramamento de sangue, será que veremos um país que pode finalmente ser um farol de diferentes crenças, tradições e comunidades moldando um futuro inclusivo, livre e pacífico - como fazemos tudo para apoiar?
Ou veremos fragmentação, juntamente com o atropelamento dos direitos das minorias, das mulheres e das meninas?
No Irã, veremos ações concretas para garantir uma renúncia clara a qualquer programa de armas nucleares... e contribuições para uma nova estrutura de segurança regional em que a soberania de cada Estado seja respeitada, permitindo a integração total do Irã à economia global? É isso que esperamos que se torne possível.
Ou veremos uma escalada com consequências imprevisíveis?
Em toda a região, devemos negar aos extremistas o poder de veto a um futuro pacífico.
Hoje à noite, estou partindo para o Líbano em uma visita de solidariedade ao povo libanês e às nossas forças de manutenção da paz.
Abriu-se uma janela para uma nova era de estabilidade institucional, com um Estado totalmente capaz de proteger seus cidadãos e um sistema que permitiria o florescimento do enorme potencial do povo libanês.
Faremos tudo para ajudar a manter essa janela bem aberta - uma janela que permitirá que libaneses e israelenses vivam em segurança.
Excelências,
Há um mundo de dor além do Oriente Médio.
Na Ucrânia, a guerra está à beira de seu quarto ano. Não devemos poupar esforços para alcançar uma paz justa, duradoura e abrangente, de acordo com a Carta das Nações Unidas, o direito internacional e as resoluções da Assembleia Geral.
No Sudão, as partes em conflito provocaram um derramamento de sangue generalizado, a maior crise de deslocamento e fome do mundo. Estamos trabalhando com todas as partes para proteger os civis, frear a escalada do conflito e encontrar um caminho para a paz.
No Sahel, estamos trabalhando com parceiros em um diálogo renovado para fortalecer a cooperação regional e enfrentar ameaças comuns, especialmente o terrorismo e o extremismo violento.
No Haiti, as gangues criminosas armadas continuam a se espalhar. No mínimo, precisamos garantir que a Missão Multinacional de Apoio à Segurança receba financiamento sustentável e previsível.
Assim como devemos fazer com a Missão de Apoio e Estabilização da União Africana na Somália.
Do Mianmar à República Democrática do Congo, ao Iêmen e muito mais, devemos continuar trabalhando pela paz. Essa é a razão de exisitir das Nações Unidas.
E isso inclui o avanço dos compromissos do Pacto para o Futuro:
- Priorizar a prevenção de conflitos, a mediação, a resolução de conflitos e a construção da paz; Continuar a fortalecer a manutenção da paz;
- Inclusão significativa das mulheres nos processos políticos e de paz;
- O primeiro acordo multilateral sobre desarmamento nuclear em mais de uma década;
- Novas estratégias para acabar com o uso de armas químicas e biológicas;
- Esforços vitais para evitar uma corrida armamentista no espaço sideral e avançar nas discussões sobre o uso de armas autônomas letais;
- E uma compreensão atualizada do impacto da atual corrida armamentista sobre o desenvolvimento sustentável.
Excelências,
Essa Caixa de Pandora moderna também está espalhando desigualdades.
Essas enormes desigualdades são um sinal claro de que algo está profundamente quebrado em nossos sistemas sociais, econômicos, políticos e financeiros.
A desigualdade pode ser superada - se nos comprometermos com políticas que promovam a equidade, em vez de nos apegarmos a receitas antigas que tanto fracassaram.
Precisamos agir em várias frentes.
Primeiro, precisamos acelerar os esforços para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Faltando cinco anos para 2030, menos de um quinto dos Objetivos está no caminho certo - uma situação exacerbada por uma lacuna de financiamento anual de US$ 4 trilhões.
Acelerar o progresso significa concentrar-se em áreas de alto impacto, como a erradicação da pobreza, a segurança alimentar, a educação de qualidade para todos, a proteção social, a cobertura universal de saúde, o acesso à energia, a transição digital e a redução dos efeitos da mudança climática.
Também devemos dar atenção especial às necessidades da África.
O financiamento é essencial aqui.
O Pacto para o Futuro oferece apoio claro a um plano para acelerar a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para ajudar a fechar a lacuna de financiamento.
Ele pede que os doadores cumpram seus compromissos Assistência Oficial ao Desenvolvimento e que o setor privado invista no desenvolvimento sustentável no mundo em desenvolvimento.
Por fim, o Pacto exige sistemas sólidos de proteção social, comércio aberto que promova o crescimento e o desenvolvimento - e tributação que promova a equidade e a prosperidade compartilhada.
Também devemos combater a desigualdade reformando e modernizando as instituições financeiras do mundo para que reflitam a economia de nosso tempo - e não a de 1945.
Os países em desenvolvimento devem ser representados de forma justa na governança das instituições das quais dependem.
Precisamos fortalecer a rede de segurança global e aumentar significativamente a capacidade dos bancos multilaterais de desenvolvimento, tornando-os maiores e mais ousados.
E devemos garantir que o financiamento concessional seja fornecido onde for mais necessário, levando em conta as vulnerabilidades e não apenas o PIB per capita.
Estaremos intensificando nossos apelos por ações significativas para ajudar os países que estão superendividados ou à beira do superendividamento - para que tenham maior capacidade fiscal para investir nos ODS.
Ao mesmo tempo, precisamos fortalecer e melhorar a arquitetura da dívida soberana para permitir que os países tomem empréstimos com confiança, conforme exigido pela Agenda 2030.
Solicitei a um grupo de especialistas que propusesse medidas concretas para romper esse impasse e dar impulso à ação sobre a dívida.
Excelências,
Este ano temos raras oportunidades de fazer grandes progressos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Da Conferência sobre Financiamento para o Desenvolvimento... à Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social... da Cúpula do G20 sob a presidência da África do Sul... à COP 30 no Brasil... à Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano... e Pequim+30.
O que me leva a outro meio essencial de combater a desigualdade - expandir as oportunidades para mulheres e meninas.
O Pacto para o Futuro conclama todos os países a alcançar a igualdade plena de gênero:
- Removendo todos os obstáculos legais, sociais e econômicos.
- Tomando medidas rápidas e direcionadas para acabar com todas as formas de violência e assédio contra mulheres e meninas, inclusive a violência sexual e baseada no gênero.
- Acelerando o investimento para acabar com a diferença salarial entre os gêneros, especialmente na economia do cuidado.
- E garantindo a participação igualitária e oportunidades de liderança - seja em conselhos de administração, em esferas políticas de poder ou nos setores de economia verde e digital.
Também devemos combater a desigualdade apoiando os jovens em todos os lugares.
A Declaração sobre as Gerações Futuras nos compromete a fortalecer a participação da juventude nos processos de tomada de decisão - em nível nacional e global.
É isso que estamos fazendo por meio do nosso novo Escritório das Nações Unidas para a Juventude, que já está totalmente operacional.
E o Pacto Digital Global conclama todos os países a apoiar jovens inovadores, estimular o espírito empreendedor e equipar a próxima geração com o conhecimento e as habilidades digitais necessárias.
As desigualdades também são alimentadas pelos flagelos da discriminação e do discurso de ódio.
Precisamos trabalhar em prol de comunidades inclusivas e impedir a disseminação do ódio e da intolerância, incluindo o antissemitismo, a islamofobia e a discriminação contra comunidades cristãs minoritárias.
Isso é ainda mais importante em um momento em que os mecanismos de proteção nas redes sociais estão sendo desmantelados, permitindo que a desinformação e o discurso de ódio floresçam.
Excelências,
A Caixa de Pandora também liberou a crise climática que está devastando e devastando nosso mundo.
Basta olhar para as colinas de Los Angeles.
A cidade passou de cenário de filmes de desastres para um cenário de desastre.
Quem paga o preço da destruição climática em todo o mundo?
Não é o setor de combustíveis fósseis que embolsa os lucros e os subsídios dos contribuintes enquanto seus produtos causam estragos.
As pessoas comuns sofrem: com suas vidas e meios de subsistência; com apólices de seguro mais caras, contas de energia voláteis e preços de alimentos mais altos.
E principalmente as pessoas mais vulneráveis, que foram as que menos contribuíram para desencadear essa devastação.
Antes do Acordo de Paris, estávamos em um caminho de mais de quatro graus de aumento de temperatura até o final do século. É verdade que estamos lentamente diminuindo a curva.
Mas todos os anos desde Paris também estão entre os mais quentes de todos os tempos, e o ano passado foi o primeiro a ultrapassar 1,5 grau.
Ao mesmo tempo, temos uma grande oportunidade diante de nós. A revolução das energias renováveis é imparável e as pessoas comuns serão beneficiadas:
Com custos de vida mais baixos e melhor saúde; segurança energética, soberania energética, bons empregos e milhões de pessoas conectadas a energia barata e acessível.
Dez anos depois do Acordo de Paris, 90% do mundo já se comprometeu com emissões líquidas zero.
Mas precisamos trabalhar muito mais.
Precisamos colocar nossos esforços coletivos em ação e cumprir as metas do Acordo de Paris.
A matemática é clara: as emissões globais devem atingir o pico este ano e diminuir rapidamente depois disso se quisermos ter uma pequena esperança de limitar o aumento da temperatura global a longo prazo a 1,5 grau.
Este ano, todos os países se comprometeram a apresentar novos planos de ação climática nacional para toda a economia - ou NDCs - que se alinham à meta de 1,5 grau.
Esses novos planos representam uma chance de aproveitar as oportunidades da era da energia limpa. Eles devem abranger todos os setores e todos os gases de efeito estufa.
Juntos, eles devem reduzir as emissões em 60% até 2035, em comparação com os níveis de 2019, com metas claras de redução para a produção e o consumo de combustíveis fósseis.
E devem mostrar como cada país contribuirá para as metas globais acordadas na COP28 - sobre o desmatamento e a transição energética.
O G20 deve liderar, dada a escala de suas emissões.
Tudo isso deve ser alcançado de acordo com o princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas.
Reconhecemos as circunstâncias e as capacidades que variam em todo o mundo, mas também reconhecemos que todos os países devem fazer mais.
O mesmo acontecerá com as Nações Unidas.
Estou trabalhando em estreita colaboração com o anfitrião da COP30, o presidente Lula do Brasil, para impulsionar a ação climática.
E estou escrevendo para os líderes das maiores economias e emissores para incentivá-los a cooperar e aproveitar essa chance.
Ao mesmo tempo, o sistema das Nações Unidas está ajudando quase 100 países em desenvolvimento a preparar seus novos planos nacionais de ação climática.
E convocaremos um evento especial para fazer um balanço dos planos de todos os países, pressionar por ações para manter o 1.5 dentro do alcance e proporcionar justiça climática.
Também convidarei empresas, instituições financeiras, cidades, regiões e a sociedade civil a apresentarem planos de transição confiáveis alinhados ao 1.5, de acordo com nosso relatório Integridade Importa.
Para as empresas, instituições financeiras e outros setores que continuam comprometidos com uma ação climática confiável, apesar de todas as pressões que estamos vendo, eu digo:
Vocês estão do lado certo da história. Continuem assim.
E para os governos, eu digo:
- Apoiem-nos. Ofereçam a segurança política e regulatória de que as empresas precisam.
- Enfrentem as barreiras à ação. Incentivem a transição verde.
- E acelerem a mudança de compromissos voluntários para regras obrigatórias.
Excelências,
A batalha pelo 1,5 não pode ser vencida sem uma eliminação rápida, justa e financiada dos combustíveis fósseis em todo o mundo.
Atualmente, os governos de todo o mundo gastam nove vezes mais para tornar os combustíveis fósseis mais baratos do que para tornar a energia limpa mais acessível aos consumidores.
E as barreiras, como os altos custos de capital, estão impedindo que os países colham os benefícios da revolução das energias renováveis.
Precisamos derrubar essas barreiras.
E cumprir com o financiamento climático em todos os aspectos, inclusive por meio da reforma da arquitetura financeira internacional.
O Acordo da COP29 sobre Financiamento deve ser implementado integralmente.
As Nações Unidas ajudarão a mobilizar apoio para transições energéticas justas.
Ajudaremos a impulsionar a aplicação do preço do carbono e a redução dos subsídios aos combustíveis fósseis.
E apoiaremos a liderança das Presidências da COP29 e da COP30 para que apresentem um roteiro credível para mobilizar 1,3 biliões de dólares por ano, conforme acordado, necessários para apoiar a ação climática no mundo em desenvolvimento.
É o momento de começar a implementar fontes de financiamento novas e inovadoras, incluindo a responsabilização dos poluidores pelos danos que causaram.
Os países desenvolvidos devem cumprir a sua promessa de duplicar o financiamento da adaptação para, pelo menos, 40 bilhões de dólares por ano este ano.
Temos de implementar a Iniciativa de Alerta Precoce para Todas as Pessoas, das Nações Unidas.
Ao mesmo tempo, precisamos de uma transformação na abordagem mundial às perdas e danos - com um grande impulso para o novo Fundo.
Sejamos claros. Para pôr as coisas em perspetiva, o montante prometido até hoje é inferior ao contrato recentemente assinado por um jogador de basebol na cidade de Nova Iorque.
Excelências,
Por último, a tecnologia também está saindo da Caixa de Pandora.
É claro que a revolução tecnológica oferece oportunidades sem precedentes.
Mas também exige uma gestão cuidadosa.
Temos a responsabilidade histórica de garantir que esta revolução beneficie a humanidade e não apenas alguns privilegiados.
O Pacto Digital Global fornece um roteiro para traduzir as aspirações em ações - com um foco particular na Inteligência Artificial. As Nações Unidas devem atuar - rápida e decisivamente - de três formas:
Em primeiro lugar, todas as pessoas devem ter igual acesso aos mais recentes conhecimentos e ideias sobre IA.
O Pacto apela à criação de um Painel Científico Internacional Independente sobre IA. Ao reunir conhecimentos especializados de várias regiões e disciplinas, este Painel ajudaria a colmatar as lacunas de conhecimento e ajudaria todas as nações a tomar as decisões políticas mais informadas em matéria de IA.
O Painel tem o potencial de se tornar o recurso de referência, oferecendo uma análise clara e imparcial das capacidades, oportunidades e riscos potenciais da IA. Exorto a Assembleia Geral a criar sem demora o Painel Científico Internacional Independente sobre IA.
Em segundo lugar, temos de promover uma governança da IA que proteja os direitos humanos e, ao mesmo tempo, promova a inovação.
O mundo precisa de uma IA que seja ética, segura e protegida. O Pacto apela a um Diálogo Global sobre a Governação da IA: Um espaço inclusivo para as partes interessadas se reunirem, sob os auspícios da ONU, para desenvolver e coordenar políticas, partilhar boas práticas e garantir a interoperabilidade.
Este diálogo seria baseado nas iniciativas mundiais existentes. Através deste Diálogo, podemos fazer avançar as proteções internacionais que defendem os direitos humanos, evitam a utilização indevida e incentivam a inovação responsável.
Podemos enfrentar os desafios emergentes - desde o enviesamento algorítmico até às preocupações com a privacidade dos dados. E podemos promover o acesso equitativo a parâmetros de referência e ferramentas de governação da IA, garantindo aos países de baixo rendimento a sua voz legítima no estabelecimento de normas de governação. Exorto a Assembleia Geral a dar início ao processo para que o Diálogo comece este ano e continue numa base regular.
E aguardo com expectativa a oportunidade de trabalhar com a Espanha e a Costa Rica, como co-facilitadores, para concretizar estes esforços e a visão mais ampla do Pacto sobre a Governança da IA.
Terceiro - temos de apoiar os países em desenvolvimento no aproveitamento da IA para o desenvolvimento sustentável.
A IA pode ajudar a reduzir a pobreza, melhorar os cuidados de saúde e a educação, acelerar a descoberta científica e impulsionar o crescimento sustentável. Mas para isso é necessário colmatar o fosso global que existe atualmente em matéria de IA.
Em breve apresentarei um relatório sobre modelos inovadores de financiamento voluntário e iniciativas de reforço de capacidades para ajudar o Sul Global a aproveitar a IA para um bem maior.
Para fazer avançar todos estes objetivos, um novo Gabinete das Nações Unidas para as Tecnologias Digitais e Emergentes apoiará os Estados-Membros, facilitando a coordenação e a ação em todo o sistema das Nações Unidas e nos mecanismos existentes.
Agradeço à Assembleia Geral por ter criado o Gabinete e exorto-vos a utilizá-lo plenamente. A mão da humanidade deve estar firmemente no controlo da tecnologia. À medida que a IA remodela o nosso mundo, todas as nações devem ajudar a moldar a IA.
Juntos, vamos garantir que a Inteligência Artificial serve o seu objetivo mais elevado: promover o progresso humano, a igualdade e a dignidade.
Excelências, estes são os males da caixa de Pandora dos tempos modernos que temos de abordar prioritariamente: conflitos, desigualdades, crise climática e os perigos da tecnologia sem controle.
Mas termino com o seguinte. O mito de Pandora é mais complexo do que a maioria das pessoas sabe.
Uma leitura atenta do poema antigo revela que, depois de os horrores terem escapado, Pandora reparou numa coisa que ficou dentro da caixa. Como escreveu o poeta: “Só a esperança ficou lá”.
Há uma lição neste fato para os nossos tempos:
Nunca devemos perder de vista a esperança. E temos de trabalhar para destravar essa esperança através da ação. Para torná-la real. Para ajudá-la a se espalhar. Mantendo nossos princípios. Falando a verdade. Nunca desistindo.
No nosso 80º ano, vamos construir o mundo mais pacífico, justo e próspero que conhecemos - apesar de tudo - sabendo que está ao nosso alcance.
Muito obrigado.
Para saber mais, siga @nacoesunidas e @onubrasil nas redes e acompanhe a cobertura da ONU News em português: https://news.un.org/pt/story/2025/01/1843586
Assista à apresentação do secretário-geral da ONU (em inglês e francês):